Pereira pegou o telefone depois de ter realizado uma seleção rigorosa num site da Internet, deteve-se no seguinte chamado:
“Gata de verdade, rosto lindo, alto nível e completinha, pronta para realizar todas as suas fantasias. Morena, com lábios de veludo e cabelos cor de mel. Venha esquecer o estresse e relaxar comigo. Carol Chrysler – Cel: XXXXXX.”
Ele ligou.
– Alô? – Responde a voz de mulher.
– Bom dia! Gostaria de falar com a Carol Chrysler, acho que é assim que se pronuncia… – Desenrola Pereira.
– Quem deseja? – Responde a mulher.
– Pereira.
– Pereira?
– Positivo.
– Olá, Pereira! Sou a Carol e você pronunciou direitinho, parabéns! – A garota responde com uma risadinha.
– Obrigado, Carol. É que esses nomes estão ficando cada vez mais complicados.
– É pela pronúncia do meu nome que percebo o nível de quem me procura.
– Muito bem, o teste é inteligente e ainda bem que fui aprovado.
– Por enquanto, você foi aprovado sim.
– Vi seu anúncio no www.mulher.facil.come e fiquei muito interessado. Como é o esquema, Carol?
– Esquema?!
– É… Como é o esquema? Quanto fica o programa?
– Quanto fica? Programa? Como assim?
– Ué?! Você não é a Carol que anuncia no site mulher.fácil como garota de programa?
– Sou a Carol, mas não sou garota de programa, sou Acompanhante – A-com-pa-nhan-te – Ok?
– Ahan… Estou entendendo. E quanto você cobra pra me acompanhar até um Motel?
– Quanto eu cobro?
– Isso! Seu cachê, gata! Quanto é seu cachê? – Pereira já demonstrava alguma impaciência nesta altura da conversa.
– Não cobro cachê. – Responde fria.
– Não?! É de graça?
– Você me dá um “presentinho” que deve ser em dinheiro, algo em torno de R$ 250,00.
– Presentinho?
– Sim…
– Em dinheiro?
– Sim…
– Entendi. E quanto tempo?
– Quanto tempo?!
– É! Quanto tempo você fica comigo? – Pereira começava a se exasperar.
– Não tem tempo, Anjo!… Deixo você relaxado, gosto de curtir… Não sou igual às outras, Amor…
– Posso ficar o tempo que eu quiser?
– Até duas horas, você pode ficar o tempo que quiser…
– Então são R$ 250,00 por duas horas?
– Claro que não, Anjo… Não pense em tempo ou valor, pense no prazer…
– Claro, claro! O prazer…
– Você não irá se arrepender!
– Acredito – Você faz anal?
– Você gosta, Anjo?
– Adoro.
– Faço. Depende da dotação.
– Preciso passar as medidas antes de encontrá-la? – Ironiza Pereira.
– Não! – Ri a menina – Na hora a gente vê.
– Mas queria saber antes de marcar…
– Anjo, tenho que ver. Vai que você é um cavalo e me arrebenta toda?
– Sou normal. E se você olhar e disser que não vai dar?
– Você nem vai sentir falta, Amor. Aliás, ali foi feito pra sair, não para entrar.
– Então você não faz anal?
– Faço.
– Mas diz que depende!
– Depende da dotação.
– Tá bom, tá bom! – Pereira joga a toalha – Você beija na boca?
– Se for cheirosinha…
– Cheirosinha?! Não há nada errado com a minha boca.
– Chupa uma balinha antes, leva uma Halls preta.
– Balinha?! Não gosto de chupar balas. – Irrita-se Pereira.
– Ahh, leva, Anjo. A boquinha fica mais gostosa com balinha.
– Sei… – Você faz oral? Vai até o final?
– Ele é limpinho?
– Gosto de banho, sou limpo.
– Lava ele direitinho?
– Claro que lavo!
– Descupe-me, Anjo… Eu pergunto isso porque sou muito higiênica. Lavo minha florzinha com Dermacyd, passo perfuminho…
– Mas faz o oral completo?
– Eu faço sim, mas com camisinha tá, Anjo!
– Camisinha?! Mesmo ele sendo limpinho? Esfrego com bombril se você quiser.
– Não estou pensando só em mim, Amor. É segurança pra você também.
– Ok, ok!… – Onde você fica?
– Copacabana.
– Posso marcar pra pegá-la?
– Tem que se hospedar num hotel, me ligar e nos encontramos lá.
– Não posso pegá-la? Não gosto de entrar sozinho em motéis.
– Ai, Anjo! Vá para o hotel, me ligue e eu chegarei rapidinho, bem linda pra você. Quero você!…
– Pode ir com uma calcinha fio dental? – Pereira revela sua tara.
– Não uso calcinhas pequenas, Amor, dá hemorróidas. Mas vou com uma calcinha da Piu-Piu que você não vai se arrepender…
– Então está marcado, às 15 horas no Serrano. Ligo pra você de lá.
– Ok, Anjo!
– Vai bem gostosa e tente não se atrasar.
– Com certeza, Amor. Você não vai se arrepender!…
Pereira era um empreendedor, um homem que se entusiasmava com desafios e todos aqueles pré-requisitos para alcançar um instante de deleite o haviam deixado excitadíssimo. Ele marcou e foi.
Depois de quarenta minutos aguardando dentro de um quarto do Hotel Serrano, somados às inúmeras tentativas frustradas de contatar a Carol num celular que insistia em responder com a Caixa Postal, Pereira desistiu e se arrependeu.
Voltou para casa…
Quando entrou em seu quarto, encontrou a esposa deitada e entubada num baby-doll surrado, presente de um Dia dos Namorados de cinco anos atrás. Pereira sentiu um tesão avassalador, inexplicável.
Aquela seria a noite mais quente na vida sexual do casal Pereira.